sexta-feira, 18 de julho de 2014
Quando os bons vão embora...
Morre mais um ícone, um símbolo, um mito. Aos poucos a humanidade se despede dos
poucos exemplos que lhe restaram. Lentamente vão embora nossas referências de bondade,
beleza e justiça. O homem se torna mais duro, mais débil, mais monstro e mais distante de
Deus. Quando interrogado sobre a obra mais bonita da humanidade, Pico Della Mirandola
respondeu: o homem. Eis o único ser de toda a natureza que tem o direito de escolher entre
os instintos mais primitivos e animalescos, ou a mais nobre e honrada forma de Ser. Aquele
que transita entre a terra e o céu, entre os animais e os deuses. Só que ser Deus exige do
homem a capacidade de dominar seus instintos, de se sobrepor à preguiça, à raiva, aos
preconceitos, à vaidade, à mentira, aos desejos. Limpar a alma das armadilhas da
personalidade, abrir o coração com pureza, com amor. É preciso ser grande não em tamanho,
mas em alma. Servir ao outro, compreender o tempo de cada um, ser humilde para saber o
lugar que ocupa e grande em caráter para lutar com coragem contra os ‘amos da caverna’.
Mandela foi um deles, que desceu até as profundezas sem nunca ter se identificado com elas.
Que voltou aos homens por amor em busca do ideal que vibrava em seu âmago. Âmago de Ser
Humano. Mas Mandela, Martin Luther King, Marco Aurélio, rei Arthur, e tantos outros seres
históricos e míticos eram tão diferentes de nós? Como alguém pode passar 27 anos na prisão e
manter-se puro mesmo em relação àqueles que o julgaram e condenaram, enquanto a maioria
de nós, mal consegue perceber o outro a nossa volta? Será que a unidade que Mandela via em
tudo, pode ser vencida pelo separatismo vigente? Será que somos feitos de matéria diferente?
Será que a grande safra dos bons deixou-nos a míngua em meio a verdades egoístas e o
individualismo perene? O que separa, afinal, homens como esses de nós, tão humanos quanto?
Vontade! Eles fizeram o que tinha de ser feito, o Dever estava acima dos desejos, a vontade
sobrepunha a inércia, o caráter estava acima dos interesses pessoais. Eles faziam não porque
alguém estava vendo, faziam porque era o certo fazer. Enquanto suas vozes internas gritavam
por glória e virtude, nossas vozes são abafadas por medo, desinteresse, inconsciência. O
homem é o mesmo, os ideais é que mudaram! Lamentar a morte de Mandela não fará que as
coisas mudem. Construir homens e mulheres conscientes, sim. Podemos escolher entre
permanecer como barro ou sermos lapidados. Escolhemos todos os dias. Até quando, vamos
escolher errado?
Caroline Pilz Pinnow - Estudante de Filosofia
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário