Há muito tempo, depois de passada a grande guerra entre os Deuses e os Titãs, o mundo era governado pelas divindades do Olimpo. O panteão grego era regido por três grandes divindades: Hades, o Deus do Submundo, Poseidon, o Deus dos mares e Zeus, o regente do Olimpo, aquele que venceu os Titãs, além de outras divindades que completavam este panteão.
Certo dia... Alirótio, filho de Poseidon, cometeu uma violência contra Alcipe, filha de Ares. Ao saber do fato ocorrido e do sofrimento da filha, Ares decidiu vingar-se e acabou matando Alirótio.
Quando Poseidon foi avisado do que havia ocorrido, ele fez uma denúncia formal e pediu para que Ares fosse julgado pelo tribunal dos Deuses do Olimpo. A denúncia foi aceita por Zeus, e o Deus da Guerra foi levado a julgamento, em uma alta Colina na Grécia, nos arredores da famosa cidade de Atenas.
Seria uma grande Utopia da minha parte, se eu contasse como foi feita esta defesa, o que o Deus da guerra alegou no dia do julgamento, isso a Mitologia não conta, não sabemos quais fundamentos jurídicos Ares utilizou. O que a história conta é que a defesa foi tão boa que o mesmo foi absolvido do crime.
Além da absolvição veio o reconhecimento. A cidade de Atenas foi uma das maiores Cidades-Estados que a Grécia Clássica teve, rivalizando com a vizinha do Peloponeso, Esparta. Atenas em homenagem ao fato ocorrido na colina resolveu nomeá-la de Areópago ou Colina de Ares.
Os atenienses escolheram esta Colina para formar o Tribunal. Em homenagem ao Deus da Guerra, diversos julgamentos aconteceram neste local e cada advogado que vinha defender ou atacar sentia um pouco da influência que este Deus deixou. Isso demonstra uma característica desta profissão que é a guerra. Todo advogado tem que ter este referencial quando começar um julgamento, deve saber de sua origem e guerrear pela causa que está subscrevendo.
A influência de Ares no Direito não se restringiu a Atenas, indo muito além. Todos os Cursos da Academia tem uma cor específica e no Direito não seria diferente, a cor do bacharel é a vermelha, assim como o Planeta Marte também é conhecido como o Planeta Vermelho, ressoando esta influência até os dias de hoje.
Ares para os gregos é o mesmo Deus Marte dos Romanos. A história tem alguns momentos peculiares, sendo um deles a conquista de Roma sobre a Grécia, já que, apesar da dominação romana, os gregos através das artes, da filosofia e mitologia influenciaram os romanos e o pensamento grego difundiu de maneira muito rápida por toda Europa, parece ter ocorrido o casamento perfeito entre o mundo intelectual dos gregos e a prática romana.
O direito atual, por exemplo, é muito influenciado pelo direito que era praticado em Roma, tanto é que usamos os termos em latim até hoje para explicar determinada situação jurídica. Sendo que Roma usava a cor vermelha em seus estandartes e símbolos. Porém se formos analisar de maneira rápida o nascimento da Cidade Romana, veremos que seus criadores, o herói Enéias e, depois de algumas gerações, os Gêmeos Rômulo e Remo, eram descendentes diretos de um Deus. Sendo este, o mesmo que defendeu a honra da filha no julgamento da Colina: o Deus Ares.
Em um momento de crise de valores no qual vivemos, é importante resgatar a origem das ideias, entender que um ofício é formado por um conceito Superior, o que deve nos inspirar a ser melhores em tudo que fazemos, lembrando que toda profissão está marcada por uma Divindade que merece respeito. E, por isso, não podemos jamais decepcioná-la, devendo assim, agir da maneira mais ética, para que possamos, no momento de uma audiência, ser um canal e deixar correr na nossa veia o sangue vermelho de Marte, e com isso travar a guerra justa, acreditando sempre que existe um Deus tutelando a nossa profissão.
Bruno Motta - Estudante de direito e voluntário da Escola de Filosofia, Nova Acrópole
Parabéns!!!
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