domingo, 11 de maio de 2014

Mães!!!

Dualidade, paradoxos, jogos de opostos; essa é uma das regras básicas de organização do mundo em que vivemos, e a maternidade não foge a ela: acontecimento absolutamente banal e prosaico para os que observam desde fora, mistério desconcertante para quem a vive. Contradição para a nossa visão racionalista que pretende abrir todas as portas apenas com a ferramenta do intelecto, a maternidade está aí para provar que há certas coisas que só se entende quando se vive; assim, pobres mortais do sexo masculino, saibam que suas mães e suas esposas vivem um mundo que lhes é absolutamente vedado, e que nem todo o amor que elas lhes dedicam permitirá que lhes traduza em palavras, porque, aliás, o forte do amor não são as palavras. É nessa dimensão que elas se encontram quando, diante de seus olhos perplexos, conversam com a própria barriga, que reage ao som de sua voz, decifram o código secreto de choros e balbucios, entoam melodias que nem chegaram a ser compostas, mas que possuem um infalível efeito tranquilizante e sonífero, e tantas outras coisas tão insólitas e tão belas.
            Há emoções, há descobertas inexpressáveis em palavras que a mãe traz em seu relicário, e que fazem dela um ser todo especial. Toda a mãe, por exemplo, que atravessou incontáveis madrugadas trocando incontáveis fraldas, que viu tantos dias nascerem ao som de sinfonias de pássaros e de bebês, sabem que as crianças e as manhãs são feitas da mesma substância: alguma coisa tão pura, de início, de despertar, que se encontra adormecida no homem comum e que, para nós, mães, torna-se uma reminiscência, uma magia que une as duas pontas de nossas vidas.  Sim, toda a mãe tem um pouco de criança, um pouco de filha; relembramos a inocência e a curiosidade diante de um mundo de coisas enormes, desproporcionais para nós; relembramos o colo, com aquele calor e sentimento de proteção e segurança absoluta que raramente voltamos a sentir na vida; relembramos vozes, palavras e melodias tão doces, embora nem saibamos mais o que elas diziam. Essas coisas, voltamos a descobri-las, quer na luz azul-acinzentada de uma manhã recém-nascida projetada sobre um bebê que brinca com os pezinhos, quer nos pés e mãos lambuzados de areia, ou nos incontáveis tesouros que guardamos, compostos de rabiscos, botões, pedrinhas e flores secas, ou nas intermináveis questões e explicações sobre coisas simples e pequenas, sobre as quais já havíamos nos acostumado a pisar insensivelmente e que, agora, somos obrigadas a parar, perceber e explicar: “-Por que é que o céu é azul, como é que o gatinho entrou na barriga da mamãe dele, como é que a plantinha saiu de dentro daquela semente tão pequenininha?”
            Portanto, toda a mãe tem seus mistérios, suas histórias; quebra a lógica de trocas da sociedade numa doação sem espera de retornos, sem prazo ou limites, num aprendizado constante de generosidade. Quebra as barreiras do tempo e se torna novamente um bebê, uma criança, um adolescente, falando a mesma língua, compreendendo seus medos e desejos. Pois verdadeiramente, só compreendemos aquilo que amamos, e poucos entendem de amor como as mães. Partícipes conscientes da obra da Grande Mãe, a Natureza, todas as mães compartilham de algo de sua grandiosidade e também de sua beleza.
 
Por Lúcia Helena Galvão - Diretora da NA Brasília

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