quinta-feira, 26 de junho de 2014

FILHOS – A DIFÍCIL ARTE DE EDUCAR

Pais não são sinônimos de educadores. E se estes últimos vêm enfrentando dificuldades cada vez maiores dentro de um sistema educacional ineficiente, incapaz de atingir resultados satisfatórios no âmbito da formação do ser humano, o que dizer dos primeiros, que desde o início reclamam da ausência de um “manual de instruções” que os ajude a tomar as decisões certas em meio a tantas questões pessoais envolvidas no relacionamento com seus filhos.
A própria idéia de educação vem sofrendo mudanças constantemente, fragmentando-se e revestindo-se de elementos artificiais e mecânicos. Uma sombra imperfeita e distante de seu verdadeiro sentido de “educire”, que visa formar o caráter para que as potencialidades humanas se desenvolvam e se expressem de maneira natural. A educação, hoje, está associada à informação, à obtenção de conhecimentos externos que conduzam à realização baseada na possibilidade de acesso aos bens materiais.

A Disciplina seria um “mal necessário”, assim como o são o trabalho, a ordem e o cumprimento do dever. Assim, diante da distorção dos fins e princípios, também os meios carecem de referencial. Já não se sabe mais como educar as crianças e os jovens, como promover entre eles o valor, o respeito e a responsabilidade; como fazer com que aprendam as lições da experiência para que sejam melhores.

O papel da Filosofia na Educação

A história nos apresenta diversos exemplos de escolas e sistemas de ensino baseados na Filosofia que, à maneira clássica, segue a trilha dos conhecimentos universais e atemporais transmitidos pelos grandes sábios, que tratam das questões fundamentais do ser humano. Independentemente do local ou época, essas escolas foram as responsáveis pela formação dos grandes homens e mulheres da história, daí surgiram os maiores heróis, artistas, cientistas, daí surgiram “Alexandres”, “Platões” e “Leonardos”.

Através da filosofia, o ser humano tem a possibilidade de se conhecer-se e dominar-se; de descobrir o seu papel no mundo e viver sua vocação de acordo com sua própria natureza. É o despertar da consciência, que permite ao homem viver em harmonia consigo mesmo e com todas as coisas.

Aplicação Prática

Essa educação natural se aplica em qualquer época e em quaisquer circunstâncias, pois não se tratam de modismos ou tendências mutáveis. Estamos nos referindo aos valores essenciais do ser humano, como discernimento, atenção, concentração, memória, coragem, amor, perseverança, resistência, determinação, honra. Isso está sempre, ainda que sob a forma de sementes, sob espessas camadas de terra mal cultivada.
A criança precisa desde cedo aprender a gostar do que é certo e bom, ter contato com a beleza, a ordem, e ter sempre à sua frente bons exemplos que a inspirem a querer ser melhor. Essa é uma tendência natural, a criança pede e necessita de referenciais e limites, embora aparentemente se anteponha aos mesmos. Também ela tem uma tendência natural ao dever e a responsabilidade, gosta de ajudar e se sente importante por ser útil aos demais. Isso deve ser estimulado através de incentivo e pequenas tarefas que lhe possibilitem a alegria dessas vivências.

Disciplina

Tudo na vida necessita de ordem para se desenvolver. E existe uma ordem natural que emana da autoridade dos pais. No entanto, as crianças possuem um ritmo próprio que precisa ser respeitado. É preciso entrar no seu ritmo para fazê-las entender e não ao contrário, como normalmente se faz, com discursos e métodos que funcionariam muito bem para os adultos, mas que para os pequenos trazem apenas pressão, frustração e insegurança.

A criança age com retidão quando acredita em seu potencial. Por isso, não basta mostrar aonde chegar e o que fazer, ela precisa descobrir nela o que se espera dela. Por exemplo, caso se espere dela uma atitude corajosa, não adianta falar que ela precisa ter coragem, simplesmente; e muito menos dizer que ela precisa deixar de ser “medrosa”. Tem que mostrá-la a coragem que existe dentro dela, afirmar que está aí, lembrá-la de antigos atos corajosos e valorizá-la por isso.

Há uma linguagem própria, lúdica, cheia de exemplos e analogias. As coisas devem ser explicadas não de forma racional, mas com muito amor, compreensão e paciência. Isso não significa ceder às pressões da criança, ao contrário, demonstra firmeza e persuasão para conduzi-la de forma correta.
Mas as crianças costumam testar seus limites, e se, em primeira instância não funcionou, é natural que exista alguma conseqüência. Essa conseqüência deve ser o mais natural possível e isso afasta qualquer possibilidade de violência. A violência diz respeito mais ao posicionamento interno do que à atitude externa. Há palavras que ferem mais do que qualquer gesto.

É importante que fique clara a idéia de direitos e deveres. Para que tenhamos direitos precisamos primeiro cumprir com os nossos deveres. Ante uma atitude errada reincidente, melhor do que aplicar um castigo qualquer, é privar a criança de algo que ela goste, e mostrar para ela que isso é uma escolha dela. Que ela pode ter o que para ela for importante desde que faça sua parte.

Disciplina é a virtude do discípulo, aquele que aprende e aplica, e com isso desenvolve-se de forma consciente. Desenvolvimento requer treinamentos e superações, e quanto antes comecemos esse processo, mais fluido e natural será o caminho.

Natália Ramon
Revista Esfinge

domingo, 15 de junho de 2014

IDENTIDADE E AUTOESTIMA

Para alcançar um bom nível de autoestima, devemos descobrir nossa identidade: Quem sou? O que sou? E o mais importante e decisivo ainda, o que quero ser?

Ou seja, consciente ou inconscientemente, todos nós abrigamos opiniões e emoções sobre nós mesmos: segurança ou insegurança, confiança ou desconfiança, fé em nós e em nossos projetos ou falta de entusiasmo. Todos esses elementos dependem diretamente do nível de autoestima que desenvolvemos. Tudo isso incide na forma com que olhamos as coisas, em como aproveitamos as oportunidades que a vida nos oferece e como nos relacionamos com os outros.

Com uma autoestima saudável, nos damos conta de nossa própria vida e assumimos uma atitude responsável e ativa na busca de nossas próprias metas. Porém, o que é a autoestima? Como se forma? Quais são seus componentes? Antes de falarmos sobre nossa versão, vejamos algumas das definições de psicólogos e pesquisadores:

Alguns utilizam a palavra “estima” no sentido de “apreço, carinho”, e vinculam a autoestima ao conjunto de emoções e sentimentos que temos por nós mesmos. Esse enfoque explica a autoestima  como um dos componentes dos “autoesquemas” ou “autossistemas” (Walter Riso). Na mesma linha, outros autores a definem como o sentimento pessoal que surge da satisfação ou insatisfação alcançada, pela forma com que conseguimos êxito na execução das metas que nos propomos (William James). Há quem a relacione a processos avaliativos, vinculados a nossas opiniões e juízos, assim como a processos objetivos e consciências que se dão, na maioria das vezes, de forma inconsciente dentro de nós.

Nathaniel Branden a relaciona com a consciência e a define como a disposição em considerar-se competente para fazer frente aos desafios básicos da vida e sentir-se merecedor da felicidade. Também com a reputação que chegamos a ter com respeito a nós. Segundo Branden, a autoestima teria dois componentes: o sentido da eficácia pessoal e o respeito por si mesmo.

Coopersmith afirma que é a avaliação aprovadora ou desaprovadora que se faz sobre si mesmo continuamente.

Carlos A. Chiari

Revista Esfinge

Canto à Justiça Futura


Não posso evitar que diante da dor,
a terrível dor da humanidade,
meu peito pareça, por vezes,
explodir de dor e impotência
por não poder aportar com tua presença entre os homens.

Se pudesse, empenharia meu sangue
e cada célula deste corpo para te trazer ao mundo,
deste corpo que nem sequer me pertence,
e nem é nele que mais se verte a dor de tua ausência.

Se necessário fosse, desaguaria minha alma em lágrimas,
mas lágrimas, já as temos tantas
que quase afogamos, em redemoinhos de uma dor cega,
que gira sobre si mesma, sem encontrar a saída.

És mistério, és enigma,
um velho Mestre dizia
que és ordem e harmonia.
Seja lá o que fores, senhora Justiça,
saiba que a ânsia por ti seca as vidas
e esteriliza as esperanças entre nós.

Somos pobre raça de mortais,
mortais por opção,
vagando em desordem,
arrastando-nos em andrajos,
sacralizando a miséria,
ferindo-nos torpemente.

Porém, algum lábio há de achar
a sílaba sagrada.
Uma voz há de emitir
a palavra transcendente
que te encarnará entre nós,
que irá te evocar novamente,
Eterna Deusa em nova morada.

Dói-me tanto não ter esse nome,
não ter podido conquistá-lo,
pois, talvez, alguns entre nós
já não possam mais esperar...

Há desespero nos olhos
e tanta dor pelo mundo,
mas esse esboço de apelo
fenece, afônico, mudo.

Os lábios não exprimem o que o coração conhece,
o calor da evidência da tua presença não aquece a voz.
Mas, curto ou longo, esse trajeto há de ser cumprido,
e alguém dará à luz o Nome tão esperado.

Aguardemos, não sem alguma inevitável ansiedade.
Mas, seja como for, quero que saibas que, ao chegares,
celebrarei minha alegria aos quatro cantos do mundo,
farei intermináveis cantos em teu nome,
dançarei à tua volta até quedar-me extenuada,
pois o tempo será Eterno, e a vida será Glória.
E as cinzas dos nossos corpos
e o fogo de nossas almas,
num amálgama perfeito,
serão o pavimento
sobre o qual erguerás a nova História.

Lúcia Helena Galvão

O Trabalho

O trabalho por Aristeu Borges É muito importante tratar do tema ‘Trabalho’ nos dias de hoje, pois a postura que se costuma ter diante do assunto é de rechaço, e para muitos o trabalho é visto como um castigo, uma maldição colocada ao homem.

Com esse pensamento, trabalha-se para manter uma sobrevivência que é apenas física e que exige um esforço físico muito grande, e tudo isso visando um conforto do corpo, o final de semana, as tão sonhadas férias e com a aposentadoria que ira libertar desse ‘mal’.

Mas será esse mesmo o sentido do trabalho ? Você já observou que tudo no mundo trabalha? E que nada existiria se não houvesse trabalho? Mesmo que muitos não percebam existe, sim, um sentido profundo e belo por trás do trabalho.

As estrelas no céu trabalham para gerar luz, calor e assim a vida; Trabalham as abelhas, os pássaros e outros animais semeando a vida; As árvores têm o trabalho de reciclar o ar que se respira e gerar alimento; Porque será que apenas nós, seres humanos, deveríamos descansar em meio a tanto trabalho?

Trabalhar é construir, e quando construímos um mundo fora, de maneira consciente, construímos dentro de nós também.

Dessa forma, se varremos a nossa casa, podemos refletir que temos também que varrer de dentro de nós nossos defeitos e impurezas, para que se expresse a beleza em nós, e se construímos uma mesa, podemos construir virtudes humanas dentro de nós que nos possibilitam sermos mais humanos. 

Trabalhamos também quando criamos laços de amizade e amor através de nossas virtudes. Tudo no universo trabalha, desde a mais pequena célula de nosso corpo até a mais gigantesca estrutura das galáxias, como já dizia o oráculo de Delfos: “Conheça-te a ti mesmo e conhecerás os Deuses e o universo”.

Assim, podemos aprender sobre os grandes mistérios que regem a vida por meio de trabalhos muito complexos e difíceis ou até mesmo com trabalhos simples como lavar a louça, arrumar a sapateira e etc. Sendo assim, podemos ver o trabalho como uma ferramenta que nos possibilita crescer como Ser Humano na escola de vida.

Confúcio já dizia: “Trabalhe com algo que goste, e não terá de trabalhar um só dia de sua vida”, mas antes de trabalhar com algo que goste, é preciso gostar daquilo que faz, e assim dar o melhor de si no trabalho. Então vamos ao trabalho, pois o trabalho dignifica o Homem!

Estudante de filosofia na NA Cuiabá, e voluntário na área de Marcenaria, Aristeu Borges

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Quem sabe... O Amor

Um dia, já ha algum tempo, eu realizava um aula ou conferência na qual abordava o tão polêmico quanto atraente assunto das almas gêmeas, e tratava da unidade possível entre dois seres humanos nos planos físico, psíquico e espiritual, quando, mais do que apenas atração física e afinidades psíquicas, eles compartilham sonhos e ideais.
Lembro-me de um jovem que literalmente se "retorcia", na plateia, visivelmente dividido entre um desejo de acreditar e um ceticismo vicioso e incômodo, ceticismo este que acabou por lançar contra mim de forma agressiva, talvez até por não suportar carregá-lo sozinho.
Após questionar o argumento por todos os ângulos que alcançou imaginar, sem sucesso, ele resolveu apelar para a artilharia pesada: a famosa falácia do “ataque à pessoa”, último recurso quando não se logra derrubar as ideias de alguém com as próprias ideias. Disparou contra mim a pergunta direta e pessoal:  "- Você tem um relacionamento assim?"
Na época, não achei que deveria (e tampouco acho, ainda hoje) abrir minha vida pessoal num contexto como aquele, ante um interlocutor provocativo e predisposto a duvidar. Porém, hoje, trocando ideias com um imenso mar à minha frente, ele me trouxe à tona esta lembrança (sabe-se lá por que mistérios do oceano...) e me veio a indagação: qual seria a minha resposta àquela pergunta?
Talvez eu dissesse: “Deixa eu te contar, meu jovem, como eu vivo e o que tenho. Um dia desses, ao ver uma tempestade desde uma janela, observei como eram belas as árvores fortemente sacudidas pela chuva e pelo vento, e o tapete de folhas que cobria o chão, quando a chuva se ia. Porém, para melhor apreciar a beleza deste quadro, tinha de desviar os olhos de um edifício, grande e grosseiro, que havia à minha frente. O contraste era óbvio: a natureza é bela até mesmo quando destrói; o homem, por sua parte, deixa um rastro feio até quando tenta construir!
Voltei para casa guardando essa simples observação com a alegria e cuidado de uma criança que carrega uma pequena flor; para quase todo mundo, ela seria banal e inexpressiva, mas meu companheiro a ouviu com atenção, e dialogou comigo sobre como a ação da natureza é um reflexo da Lei do Universo (o Dharma, segundo a tradição oriental), e o quanto a ação humana, contaminada pelo egoísmo, é reflexo do Karma, lei de ação e reação, e, por isso, aparece como ‘feia’ ante um senso estético que busca pegadas de harmonia e de identidade. Aquela cena, antes tão irrelevante, virou uma visão das leis do universo, se desenrolando ali, diante de nós... e nos maravilhamos, juntos, com essa reflexão. E assim também se passou com muitas e muitas outras ‘pequenas flores’; um dia, colhidas em um livro, em outro, numa janela etc etc. Tantos dias, tantas palavras belas, tantas visões especiais que somos capazes de evocar e provocar, um na vida do outro...
No campo do psíquico, eu o ensinei a gostar de algumas coisas, como árias de opera e poesia, e hoje, ele possui melhor gosto para selecioná-las do que eu, e vemos e saboreamos juntos os detalhes mais belos de cada uma. Por outro lado, ele me fez amar tudo que é engenhoso e organizado, tudo que se ergue sobre um trabalho persistente e justo, e que bate nas portas da história incansavelmente, até abri-las, por mérito do esforço e da inteligência. Através de seus olhos, amei a figura de Abraham Lincoln, a cidade de São Paulo, a figura mítica de Ulisses... logo eu, para quem, antes, a "Ilíada" se resumia a apenas dois personagens: Aquiles e os coadjuvantes!
Ele me ensinou a ordenar cada tempo e espaço da vida, até o quarto de um hotel onde nos hospedamos por apenas um dia, pelo simples requinte e respeito próprio de não querer estar em meio ao caos.
No plano físico, costumo brincar que sou culpada por vários dos fios prateados de cabelo e as rugas que vão surgindo em seu rosto, como se as achasse feias... para mim, são marcas de uma batalha, e são tão belas... pois sei os obstáculos que deixaram abatidos, atrás de si, e os caminhos que franquearam, para ele, para mim, para tantos...
Ele me ensinou que os ruídos em nossos ouvidos, à noite, muitas vezes são apenas os sons da própria noite que, ao se fazer silêncio fora, podemos identificar dentro de nós, como microcosmos que somos. E esses sons têm embalado nossos sonhos, compartilhados pelas noites afora.
‘-Mas não ha brigas?’, perguntaria o meu renitente rapazinho. Sim, há! Os pequenos (e médios!) ajustes de personalidades, dificilmente evitáveis. Mas, ainda quando brigamos, sinto que, sobre nossas cabeças físicas (às vezes, mais "duras" do que deveriam!), pairam nossas almas, unidas e buscando ainda, enlaçadas, ouvir e compreender os sons da noite, em si, no outro, em tudo... Unidas pelo amor a estes mistérios, elas jamais se separam, e literalmente ‘arrastam’ os corpos a encontrarem novamente o caminho da harmonia, nunca perdida no essencial...”
Talvez o jovem simplesmente cerrasse o semblante, ou desferisse um irônico e sorridente "É mesmo?", para não se dar por vencido. E eu talvez respondesse, também sorrindo: "Quem sabe?"
Por dentro, porém, haveria só serenidade e certeza, pois eu não creio nisso: eu o vivo. E hoje, essa demanda misteriosa do mar (quem sabe se não foi Vênus e sua voz, trazida pelas espumas?) me pediu que eu o transformasse em palavras e tentasse transmiti-lo aos jovens céticos do mundo, como uma oferenda. Talvez se riam externamente, menosprezem e duvidem; mas terá sido válido se alguma voz, de dentro deles, desde bem fundo, em algum momento, chegar a esboçar a pergunta: “Quem sabe?”
abrir frestas para a luz de um grande Mistério que, (quem sabe?), se chame Amor.
 
Texto de Lúcia Helena Galvão

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Ode ao amor


Um dos primeiros poemas que eu lembro ter contato foi o Soneto de Fidelidade de Vinícius de Moraes. Gostei tanto que decorei as estrofes, e falava com ênfase a frase: “Que seja infinito enquanto dure”. Naquela época, tais palavras eram o ápice que eu sabia sobre o amor. Meu primeiro relacionamento foi literalmente uma cópia do poema e é claro que, se era para ser infinito enquanto durasse, uma hora ele iria acabar. E acabou, deixando meu coração partido por muito tempo e aquela sensação de inconformismo, afinal, será mesmo que o amor verdadeiro morre. Acaba assim, de repente, com uma divergência de opiniões, com um distanciamento físico, ou quando as afinidades não são mais as mesmas?

Então, você conhece o cara da sua vida naquele encontro de amigos do sábado à noite, vocês conversam sobre assuntos superinteressantes: o quanto são fãs de Jorge Benjor, que não vivem sem macarronada, adoram patins e, é claro, que o signo de vocês é a combinação perfeita dos astros. Pronto, é amor! Só pode ser o amor, que outra razão para que estivéssemos no mesmo bar naquele dia. Você cancelou seu compromisso para ir lá, ele teve a viagem adiada. Foi um sinal, um sinal dos deuses. Em um mês você chama-o de amor e ele corresponde com flores. Poderia ser mais perfeito que isso?

Então vocês convivem mais um pouco e você descobre que ele tem uma péssima mania de espalitar os dentes, fala errado e talvez não seja tão romântico assim. Ele descobre que você tem um gosto estranho para filmes e que é muito ciumenta. Mesmo assim, vocês se mantem juntos. Só que os pequenos defeitos vão crescendo... Um dia vocês descobrem que não eram tão parecidos assim. O príncipe virou sapo, e agora? É o fim... Coitado do amor, pegou a malinha e foi-se embora.

Uniões de corpos são assim, com o tempo desgasta mesmo. O corpo envelhece, o desejo diminui e aquele vazio só parece aumentar. Uniões por afinidade, ai que perigo. Eu desconheço alguém que tenha mantido os mesmos gostos por muito tempo. A gente muda, refina, oscila o humor, tem crises, é assim com todo mundo e se não houver algo maior que garanta a continuidade do relacionamento, esse fatores podem ser, sim, o motivo do fim.

Ah e tem a dita carência também. O tempo foi passando, você está envelhecendo e acha que não dá mais para ficar só. E aí, qualquer um serve. Opa. Como assim? E aquela lista de pré-requisitos foi parar aonde? Pois é, a tal da carência é a máscara mais comum do amor. Mas pense bem, será justo você ficar com alguém, ou aquele ‘enrolar’ o outro por uma debilidade sua? Aquele que não consegue viver sozinho tem a tendência a sufocar o parceiro. Muitas vezes deixa a própria individualidade de lado para agradar o outro. Passam os anos e essa pessoa vai morrendo por dentro. E se forem dois carentes então, um querendo curar o vazio do outro. Alerta!!! Vocês correm o risco de afundar juntos.

Relacionamento precisa ter um algo mais, um ‘q’ de admiração, do tipo ‘vamos crescer juntos’. Vazio se preenche com vida. Depende de autoconhecimento! Aquele que não conhece as próprias debilidades, que busca no outro uma espécie de tampão para a carência ou medo de ficar sozinho, esse desconhece o sentido do amor. Eros, o Deus do amor, certamente não poderia viver em meio às sujeiras da nossa personalidade, se alimentando de migalhas, de dúvidas, de medos e carências. O amor é nobre, altruísta, busca corações sensatos, mentes ativas, almas belas.

Sabe aquela frase do ‘Cuidar do jardim para que as borboletas venham’, Shakespeare estava certo. Cuide do jardim da sua alma, adube a terra de boas ideias, bons sentimentos, semeie exatamente o que quer colher. A vida é justa, não espere plantar mangas e colher maças. Seja o que você procura no outro. Quer alguém honesto, seja honesto! Quer alguém virtuoso, seja virtuoso! Você atraí o que você é, o que pensa. O verdadeiro amor não pode ser construído em cima de debilidades humanas. Não se pode sustentar paredes maciças com papelão, não se pode sustentar o amor com ilusões e fantasias.

Amor é sentimento que vem do espírito e habita os seres que se conhecem verdadeiramente e que querem estar juntos, não para sugar tudo que o outro possa dar, mas porque são generosos ao ponto de não esperar nada. De dar, porque esse é o natural da vida. Desconheço relacionamentos saudáveis que não tenham a generosidade como cerne. O verdadeiro amor provém da união de almas que buscam a mesma estrela e que, por saberem que a personalidade é passageira, se mantém lado a lado, lapidando-se todos os dias, para dar ao outro o melhor de si.

E se tem que ter poesia, eu deixo o meu poeta preferido: “Quando o amor acenar, siga-o ainda que por caminhos ásperos e íngremes. Debulha-o até deixá-lo nu. Transforma-o, livrando-o de sua palha. Tritura-o, até torná-lo branco. Amassa-o, até deixá-lo macio; e, então, submete ao fogo para que se transforma em pão para alimentar o corpo e o coração” Khalil Gibran.

Caroline Pilz Pinnow
Jornalista e estudante de filosofia na Nova Acrópole Cuiabá

quinta-feira, 5 de junho de 2014

O Mito de Teseu e o Minotauro

Na semana passada a Nova Acrópole Cuiabá promoveu a palestra: 'Como viver os mitos' com a filósofa Lucia Helena Galvão. Neste sábado, você poderá compreender melhor o mito de 'Teseu e o Minotauro' com a palestra do professor Roni Cezar. A palestra ocorre às 18h, na sede da escola. Para fazer a inscrição ou saber o endereço da escola, basta acessar o link: http://www.novacropole.org.br/brasil/sedes/cuiaba.html

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Por meio de heróis, vilões e reviravoltas, os mitos trazem histórias cheias de simbolismos. Eles reportam experiências humanas e realidades psicológicas que, mais frequentemente do que presumimos, podem nos ajudar muito no dia-a-dia. O mito de Teseu, por exemplo, conta sobre um herói grego que decide enfrentar e matar o terrível Minotauro, que vive em um labirinto na cidade de Creta. Todos os anos homens e mulheres eram sacrificados ao monstro, cuja fúria nunca ninguém queria enfrentar. Para terminar com isso, Teseu entra no labirinto do Minotauro, acompanhado apenas de um novelo de lã, para marcar o caminho por onde havia entrado e não se perder, o herói finalmente consegue encontrar-se com o Minotauro (metade homem, metade touro). Ele usa de uma espada que Ariadne (filha do Rei Minos) havia lhe dado e travando uma batalha, vence o monstro.

Esse famoso mito tem muito a dizer sobre os aspectos da vida cotidiana. Como disse Emília, cada um de nós é representado por Teseu: o herói que trava a sua luta no meio de um labirinto. Que luta é essa? A luta do autoconhecimento e da superação dos próprios defeitos. A luta para aprender a viver de modo saudável e equilibrado, em meio a um mundo caótico (o labirinto). No fim, todos vamos enfrentar os próprios Minotauros, os próprios monstros. Diariamente precisamos vencer imperfeições, medos, angústias e dúvidas. O lado obscuro que muitas vezes sacrifica as atitudes nobres, precisa ser vencido. Essa é a batalha que todos lutamos, diariamente, assim como Teseu.

As palestras culturais da Nova Acrópole visam trazer de volta para o público o cultivo de valores, que às vezes são esquecidos na correria do século vinte e um. E através da filosofia à maneira clássica, da cultura e do voluntariado, entender melhor quem somos, de onde viemos e para onde iremos. Para saber a programação completa, visite a seção “Agenda”.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Por que Nova Acrópole?

Nas cidades clássicas gregas, a Acrópole era o local mais elevado e destacado. Hoje, com um critério semelhante, buscamos a superação individual, procurando fazer com que cada um se converta em seu próprio arquiteto e construtor, até alcançar seus mais elevados objetivos.

A Acrópole interior cria seres humanos ativos, inegoístas, que não buscam apenas o destaque individual, mas podem ajudar-se e ajudar os demais. O novo estilo de ser homem e mulher, de maneira autêntica, em um contexto integral, completo e natural. Colocamos a seu alcance as eternas verdades que mantém força e atualidade, a todo o momento, com o objetivo de dar respostas a nossos problemas de hoje.

Início

Transcorria o ano de 1957 quando o Prof° Jorge Angel Livraga Rizzi juntou-se a um grupo de jovens idealistas como ele e criou um espaço que lhe permitiu resgatar a tradição cultural e universal da humanidade e realizar investigações sem estar submetido a dogmas religiosos ou a interesses partidários, com o objetivo de reviver aqueles elementos atemporais característicos das civilizações clássicas – como a Egípcia, a Grega e a Romana – que pudessem ser úteis para o homem atual e que lhe possibilitassem não apenas sonhar com um mundo melhor, mas efetivamente construí-lo.

Assim, em 15 de julho daquele ano, fundou-se a Organização Internacional Nova Acrópole na cidade de Buenos Aires, Argentina. Tomou a forma de uma Escola de Filosofia Prática, ou seja, não apenas escola de estudo, mas fundamentalmente de formação e vivência, considerando a filosofia, como também o diz a própria etimologia da palavra, como “Amor à Sabedoria”; portanto, não poderia excluir em sua busca a ciência, a arte, a religião e a política como diferentes aspectos da vida humana.

O nome Acrópole surgiu daquela “cidade alta” que existiu na Grécia; não que a intenção fosse a de construir concretamente uma cidade, mas possibilitar a cada pessoa buscar a verdade na região mais “alta”, nobre ou elevada de si mesma, e daí dirigir-se a uma ação construtiva.

Tudo isto pode parecer sonho ou nostalgia de outras épocas que nada tem a ver com nosso mundo. Contudo, o entusiasmo e a necessidade de aventuras espirituais levaram muitos jovens a formar outras escolas de Nova Acrópole em diferentes países. E assim, em poucos anos, este pequeno espaço começou a reproduzir-se em outros lugares, mostrando quão possível e necessário é este Ideal ao mundo.

Hoje, são mais de 10 mil acropolitanos, espalhados em mais de 45 países, conduzidos pelo mesmo ideal de Fraternidade, Sabedoria e Virtude que, há 50 anos, levou os primeiros acropolitanos a unirem esforços pela construção de um Mundo Novo e Melhor.

Em Belém, Nova Acrópole tem promovido palestras, ciclos culturais, cursos em diversas áreas do saber, além de atividades ecológicas e sociais. Nossa principal atividade é o Curso de Filosofia Prática, com abertura de novas turmas ocorrendo conforme a disponibilidade de espaço em nossa sede.

Princípios da Nova Acrópole

I. Promover um ideal de fraternidade internacional, baseado no respeito à dignidade humana, mais além de diferenças raciais, de sexo, culturais, religiosas, sociais, etc.
II. Fomentar o amor à sabedoria através do estudo comparado de filosofias, ciências, religiões e artes, para promover o conhecimento do ser humano, das leis da Natureza e do Universo.
III. Desenvolver o melhor do potencial humano, promovendo a realização do ser humano como indivíduo e sua integração na sociedade e na natureza, como elemento ativo e consciente, para melhorar o mundo.

A seguir explicamos nossos princípios, que são inspirados em formas de pensamento tais como o Pitagorismo e o Neoplatonismo, os quais, em sua época, proporcionaram autênticos avanços na civilização.

                       I. Fraternidade entre todos os homens
É a união para além das diferenças.
O respeito pelas diversas identidades e tradições faz com que cada um, por sua vez, sinta-se cidadão do mundo.

                       II. Convivência entre as culturas
É a prática da tolerância através de uma cultura integral, que permite relacionar todos os campos da criatividade e do pensamento.

Esta integração torna compatível e complementar o que de início parecia em oposição.
Procuramos harmonizar pessoas, idéias e sentimentos novos e diferentes, dentro de um conjunto social mais rico e aberto.

                       III. Desenvolvimento da capacidade espiritual do indivíduo
O ser humano está integrado à natureza e tem um potencial que ele próprio desconhece. Assim, suas possibilidades de desenvolvimento são quase ilimitadas.