quarta-feira, 4 de maio de 2016

De onde surgem os heróis - Homenagem a Marechal Cândido Rondon


Todo povo na construção de sua identidade possui heróis. Homens que por seus valores e virtudes, quando colocados à prova, eram fiéis a eles mesmos e por isso faziam grandes feitos, os diferenciando de homens comuns. Civilizações como a Grega deixaram o legado de heróis míticos, como por exemplo, Hércules e Teseu, que serviam de inspiração a todos, e ajudavam a formar os valores coletivos daquele povo.

Em um momento que falar de valores humanos está tão fora de moda, mesmo que seja tão urgente voltar a dar importância a isso, é sempre bom lembrarmos de homens que tinham sua conduta inspirada em heróis. Do século passado poderíamos lembrar de Mahatma Gandhi, e seu exemplo moral em combater não por meio da violência e sim através do próprio esforço, tudo aquilo que fazia seu povo e seu país, a Índia, serem subjugados por colonizadores. Ou mesmo Nelson Mandela, que depois de 27 anos de prisão, saiu da cadeia diretamente para a presidência da África do Sul, e quando todos pediam vingança e revanchismo, pelo perdão fez um governo de unidade nacional.

Entretanto, vamos falar de heróis brasileiros, apesar de alguns acharem que não os temos. Dedicaremos este artigo a Cândido Mariano da Silva Rondon, mais conhecido como Marechal Rondon, nascido em 5 de maio de 1865, em Mimoso e órfão desde os 2 anos de idade. Descendente de indígenas (etnia Terena, Bororo e Guaná) viveu com seus avós até os 07 anos, quando se mudou para Cuiabá, onde ficou aos cuidados do tio e iniciou os estudos no Colégio Estadual Liceu Cuiabano.

Ele não se contentou com uma vida comum e por força de vontade superou suas muitas dificuldades ao compreender seu próprio papel no mundo. Dizem que os heróis são aqueles que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. O feito pouco importa, pois o que mais vale é a superação dos próprios limites do homem. A capacidade de demonstrar valor em situações difíceis, sem jamais se deter ante as situações as quais a maioria desiste. Virtuoso é aquele que em tudo que faz pode servir de modelo para uma sociedade ou comunidade, mostrando que o homem pode ser muito maior do que pensa.

Rondon viveu de alguma forma estes aspectos e talvez, por isso, tenha deixado seu nome marcado na história. Foi o 2º ser humano a receber em sua homenagem um meridiano, após cumprir missões abrindo caminhos, desbravando terras, lançando linhas telegráficas, fazendo mapeamentos de terrenos, ligando o ‘Oiapoque ao Chuí’ e, principalmente, estabelecendo relações cordiais com os índios Bororo, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariquemes, Boca Negra, Pacaás Novo, Macuporé, Guaraya, Macurape.

Tinha o constante sentido de servir. Em 15 de novembro, dia da Proclamação da República Brasileira, em uma de suas missões nos confins do Brasil disse: “Não posso conceber esse dia sem intensa vibração patriótica pelos destinos da Pátria que tanto amo. E porque amor é ação, é serviço, procuro servi-la sem medir sacrifício: Melhor ama sua Pátria quem melhor a serve e não quem diz que a ama!”.
Entre seus feitos está o esforço para demarcar as fronteiras do território nacional, em épocas onde não existiam estradas e o trajeto era feito por mulas, ou a pé. Instalou linhas teleféricas para comunicar rincões perdidos aos grandes centros do Brasil e, assim, consolidar as dimensões continentais do país. Chefiou missões e percorreu mais de 100 mil quilômetros, descobriu serras, planaltos, montanhas e rios, elaborando as primeiras cartas geográficas de cerca de 500 mil quilômetros quadrados de território brasileiro desconhecido, proporcional ao tamanho da França. Protetor dos indígenas, demarcando suas terras, sendo seus esforços fundamentais para a criação posterior da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Entre as inúmeras histórias de sua jornada, pode-se destacar uma em especial, narrada pelo próprio Rondon:

“(…) havíamos utilizado uma canoa para atravessar o rio, contudo, os índios a haviam soltado. Foi tão grande a decepção que tirou aos meus abatidos companheiros os últimos restos de coragem e energia. Como transpor o rio? A nado? Seria impossível para homens famintos, derreados pela fadiga, doentes, apavorados com a possibilidade de um ataque.
A situação não comportava palavras e gestos inúteis. Era preciso agir. Construí uma pelota com um couro de boi. Carreguei-a com volumes de material e, a nado, por meio de uma corda presa aos dentes fui rebocando a pelota através da correnteza. Entre 13h e 16hs, depois de repetidas viagens, tinha transportado os doentes, e o material.
Um dos homens, completamente exausto, destacou-se da tropa, preferindo deixar-se exterminar ou morrer. Retrocedi e encontrei-o estendido no chão. Resolvi carregá-lo nos ombros, mas minha solicitude fê-lo reviver: ergueu-se e me acompanhou”.

Frases de Rondon:

 “ Ao lado das forças egoístas – a serem reduzidas a meios de conservar o indivíduo e a espécie – existem no coração do homem: tesouros de amor que a vida em sociedade sublimará cada vez mais”.

“Somente relações pacíficas e fraternais poderão fundir e homogeneizar os núcleos humanos (...) mas o que torna possível essas relações é o aperfeiçoamento moral, que não tem caminhado com a mesma velocidade. Preocupado com o mundo exterior, esqueceu-se o Homem do que mais importa, o seu próprio aperfeiçoamento (...) Há conflitos dentro de cada cabeça, conflitos que se dilatam, em cuja colisão tomam preconceitos e antagonismos, caráter muito mais grave do que outrora”.

Ao chegar em Manaus e ser recebido com um presente caríssimo falou:

“Não posso aceitar o presente que quiseram mimosear minha esposa. As pérolas do afeto que me quiseste testemunhar são a joia mais preciosa e que guardarei para sempre.
Não é possível à minha esposa, esposa de um simples oficial, usar as pérolas de um valioso colar, em desacordo com o nosso modesto padrão de vida. Aceitai-o, pois de novo, com os meus mais comovidos agradecimentos”.


Seu Legado:
- Em 1889, Rondon participou diretamente com Benjamim Constant das articulações que resultaram na Proclamação da República Brasileira, sendo um dos comandantes do 2º Regimento de Artilharia à Cavalo que faziam o cerco ao Gabinete de Visconde de Ouro Preto;
- Entre 1892 a 1898 ajudou a construir as linhas telegráficas de Mato Grosso a Goiás, entre Cuiabá e o Araguaia, e uma estrada ligando Cuiabá a Goiás;
- Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha telegráfica, entre Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras do Paraguai e Bolívia;
- Em 1906 encontrou as ruínas do Real Forte Príncipe da Beira, a maior relíquia histórica de Rondônia;
- Em 1907, no posto de major do Corpo de Engenheiros Militares, foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira, a primeira a alcançar a região amazônica, e que foi denominada Comissão Rondon. Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915. Nesta mesma época estava sendo construída a ferrovia Madeira-Mamoré, que junto com o desbravamento e integração telegráfica de Rondon ajudaram a ocupar a região do atual estado de Rondônia.
- Realizou expedições com a comissão Rondon com o objetivo de explorar a região Amazônica. Em 1910 organizou e passou a dirigir o Serviço de Proteção aos Índios e de maio de 1913 a maio de 1914 realizou mais uma expedição, em conjunto com ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt. (Wikipédia – acesso em 03/05/2016, às 10h05).

Um comentário:

  1. Vai ter palestra sobre este grande herói Brasileiro no canal do youtube da nova acrópole??

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