terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Conhecer-se a si mesmo


Narciso 'não gostava daquilo que não fosse
sua imagem refletida'. E você, é como ele?
Imagem de Caravaggio,  pintor barroco

Falamos de trabalhos difíceis, de matérias difíceis, de situações difíceis, de atuações ou circunstâncias difíceis, de pessoas difíceis, de épocas difíceis...a lista seria interminável e não pretendemos completá-la nem dar uma solução para cada um dos casos nestas poucas linhas. Queremos sim, chamar a atenção sobre a posição interior de quem deve se enfrentar com o 'difícil'.

Quase todos reconhecemos que há coisas fáceis: geralmente são as que os outros fazem e umas poucas que nós mesmos realizamos satisfatoriamente. Não sei por que a maioria das pessoas pensa que 'os outros' têm coisas fáceis para fazer e que a vida acumula as dificuldades sobre si e não sobre os demais. Talvez seja porque a maioria das pessoas não sabe se colocar verdadeiramente no lugar dos demais.

Por outro lado, cada um sabe que por dar conta de certas situações e que tem capacidade para fazer bem ou muito bem algumas tarefas. Porém, junto a essas, somam-se muitíssimas outras que se veem como insolúveis, como metas inalcançáveis.

Pense um pouco: o fácil em si não existe. Se perguntássemos, uma a um, o que considera fácil, todos responderiam de maneira diferente. Existe, isto sim, o que sabemos e o que podemos fazer, e o que nem sabemos nem podemos fazer. O fácil é o já aprendido, o que já se dominou e se realiza com desenvoltura. Quando, onde e como aprendemos? O que importa é que o aprendido e o assimilado se refletem como uma certa facilidade para atuar na vida.

Você costuma desistir do que é 'difícil'?
Do mesmo modo, o difícil em si não existe; depende da pessoa e de seu saber acumulado. O que não se conhece, o que se apresenta como algo novo, leva a máscara do difícil. É provável que, por não saber resolver a situação, se continue chamando de 'difícil' por muitos anos uma coisa, que já não é tão desconhecida nem nova, mas repetitiva e temida. A experiência do medo e do temor ao novo não é a que nos leva a superar o difícil. Precisamente, para evitar dificuldades, deve-se evitar todo traço de temor.

É natural que a vida esteja repleta de coisas difíceis. Todos viemos ao mundo para aprender e para somar novos conhecimentos. Se tudo fosse sempre fácil, seria para chamar nossa atenção: ou estancamos no que já sabemos, ou nos tornamos inconscientes e não reconhecemos os novos degraus. O difícil é o que nos põe frente ao que nos cumpre adquirir neste momento, ao que - parecendo uma dura prova - é, no entanto, o exercício indispensável para que as experiências abram caminho na consciência.

Fonte: Para se conhecer melhor, Delia Steinberg Guzmán, Ed. Nova Acrópole, páginas 25, 26 e 27

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