Pais não são sinônimos de educadores. E se estes últimos vêm enfrentando dificuldades cada vez maiores dentro de um sistema educacional ineficiente, incapaz de atingir resultados satisfatórios no âmbito da formação do ser humano, o que dizer dos primeiros, que desde o início reclamam da ausência de um “manual de instruções” que os ajude a tomar as decisões certas em meio a tantas questões pessoais envolvidas no relacionamento com seus filhos.
A própria idéia de educação vem sofrendo mudanças constantemente, fragmentando-se e revestindo-se de elementos artificiais e mecânicos. Uma sombra imperfeita e distante de seu verdadeiro sentido de “educire”, que visa formar o caráter para que as potencialidades humanas se desenvolvam e se expressem de maneira natural. A educação, hoje, está associada à informação, à obtenção de conhecimentos externos que conduzam à realização baseada na possibilidade de acesso aos bens materiais.
A Disciplina seria um “mal necessário”, assim como o são o trabalho, a ordem e o cumprimento do dever. Assim, diante da distorção dos fins e princípios, também os meios carecem de referencial. Já não se sabe mais como educar as crianças e os jovens, como promover entre eles o valor, o respeito e a responsabilidade; como fazer com que aprendam as lições da experiência para que sejam melhores.
O papel da Filosofia na Educação
A história nos apresenta diversos exemplos de escolas e sistemas de ensino baseados na Filosofia que, à maneira clássica, segue a trilha dos conhecimentos universais e atemporais transmitidos pelos grandes sábios, que tratam das questões fundamentais do ser humano. Independentemente do local ou época, essas escolas foram as responsáveis pela formação dos grandes homens e mulheres da história, daí surgiram os maiores heróis, artistas, cientistas, daí surgiram “Alexandres”, “Platões” e “Leonardos”.
Através da filosofia, o ser humano tem a possibilidade de se conhecer-se e dominar-se; de descobrir o seu papel no mundo e viver sua vocação de acordo com sua própria natureza. É o despertar da consciência, que permite ao homem viver em harmonia consigo mesmo e com todas as coisas.
Aplicação Prática
Essa educação natural se aplica em qualquer época e em quaisquer circunstâncias, pois não se tratam de modismos ou tendências mutáveis. Estamos nos referindo aos valores essenciais do ser humano, como discernimento, atenção, concentração, memória, coragem, amor, perseverança, resistência, determinação, honra. Isso está sempre, ainda que sob a forma de sementes, sob espessas camadas de terra mal cultivada.
A criança precisa desde cedo aprender a gostar do que é certo e bom, ter contato com a beleza, a ordem, e ter sempre à sua frente bons exemplos que a inspirem a querer ser melhor. Essa é uma tendência natural, a criança pede e necessita de referenciais e limites, embora aparentemente se anteponha aos mesmos. Também ela tem uma tendência natural ao dever e a responsabilidade, gosta de ajudar e se sente importante por ser útil aos demais. Isso deve ser estimulado através de incentivo e pequenas tarefas que lhe possibilitem a alegria dessas vivências.
Disciplina
Tudo na vida necessita de ordem para se desenvolver. E existe uma ordem natural que emana da autoridade dos pais. No entanto, as crianças possuem um ritmo próprio que precisa ser respeitado. É preciso entrar no seu ritmo para fazê-las entender e não ao contrário, como normalmente se faz, com discursos e métodos que funcionariam muito bem para os adultos, mas que para os pequenos trazem apenas pressão, frustração e insegurança.
A criança age com retidão quando acredita em seu potencial. Por isso, não basta mostrar aonde chegar e o que fazer, ela precisa descobrir nela o que se espera dela. Por exemplo, caso se espere dela uma atitude corajosa, não adianta falar que ela precisa ter coragem, simplesmente; e muito menos dizer que ela precisa deixar de ser “medrosa”. Tem que mostrá-la a coragem que existe dentro dela, afirmar que está aí, lembrá-la de antigos atos corajosos e valorizá-la por isso.
Há uma linguagem própria, lúdica, cheia de exemplos e analogias. As coisas devem ser explicadas não de forma racional, mas com muito amor, compreensão e paciência. Isso não significa ceder às pressões da criança, ao contrário, demonstra firmeza e persuasão para conduzi-la de forma correta.
Mas as crianças costumam testar seus limites, e se, em primeira instância não funcionou, é natural que exista alguma conseqüência. Essa conseqüência deve ser o mais natural possível e isso afasta qualquer possibilidade de violência. A violência diz respeito mais ao posicionamento interno do que à atitude externa. Há palavras que ferem mais do que qualquer gesto.
É importante que fique clara a idéia de direitos e deveres. Para que tenhamos direitos precisamos primeiro cumprir com os nossos deveres. Ante uma atitude errada reincidente, melhor do que aplicar um castigo qualquer, é privar a criança de algo que ela goste, e mostrar para ela que isso é uma escolha dela. Que ela pode ter o que para ela for importante desde que faça sua parte.
Disciplina é a virtude do discípulo, aquele que aprende e aplica, e com isso desenvolve-se de forma consciente. Desenvolvimento requer treinamentos e superações, e quanto antes comecemos esse processo, mais fluido e natural será o caminho.
Natália Ramon
Revista Esfinge
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