Então,
você conhece o cara da sua vida naquele encontro de amigos do sábado à noite,
vocês conversam sobre assuntos superinteressantes: o quanto são fãs de Jorge
Benjor, que não vivem sem macarronada, adoram patins e, é claro, que o signo de
vocês é a combinação perfeita dos astros. Pronto, é amor! Só pode ser o amor,
que outra razão para que estivéssemos no mesmo bar naquele dia. Você cancelou
seu compromisso para ir lá, ele teve a viagem adiada. Foi um sinal, um sinal
dos deuses. Em um mês você chama-o de amor e ele corresponde com flores.
Poderia ser mais perfeito que isso?
Então
vocês convivem mais um pouco e você descobre que ele tem uma péssima mania de
espalitar os dentes, fala errado e talvez não seja tão romântico assim. Ele descobre
que você tem um gosto estranho para filmes e que é muito ciumenta. Mesmo assim,
vocês se mantem juntos. Só que os pequenos defeitos vão crescendo... Um dia vocês
descobrem que não eram tão parecidos assim. O príncipe virou sapo, e agora? É o
fim... Coitado do amor, pegou a malinha e foi-se embora.
Uniões
de corpos são assim, com o tempo desgasta mesmo. O corpo envelhece, o desejo
diminui e aquele vazio só parece aumentar. Uniões por afinidade, ai que perigo.
Eu desconheço alguém que tenha mantido os mesmos gostos por muito tempo. A
gente muda, refina, oscila o humor, tem crises, é assim com todo mundo e se não
houver algo maior que garanta a continuidade do relacionamento, esse fatores
podem ser, sim, o motivo do fim.
Ah
e tem a dita carência também. O tempo foi passando, você está envelhecendo e
acha que não dá mais para ficar só. E aí, qualquer um serve. Opa. Como assim? E
aquela lista de pré-requisitos foi parar aonde? Pois é, a tal da carência é a
máscara mais comum do amor. Mas pense bem, será justo você ficar com alguém, ou
aquele ‘enrolar’ o outro por uma debilidade sua? Aquele que não consegue viver
sozinho tem a tendência a sufocar o parceiro. Muitas vezes deixa a própria
individualidade de lado para agradar o outro. Passam os anos e essa pessoa vai
morrendo por dentro. E se forem dois carentes então, um querendo curar o vazio
do outro. Alerta!!! Vocês correm o risco de afundar juntos.
Relacionamento
precisa ter um algo mais, um ‘q’ de admiração, do tipo ‘vamos crescer juntos’. Vazio
se preenche com vida. Depende de autoconhecimento! Aquele que não conhece as
próprias debilidades, que busca no outro uma espécie de tampão para a carência
ou medo de ficar sozinho, esse desconhece o sentido do amor. Eros, o Deus do
amor, certamente não poderia viver em meio às sujeiras da nossa personalidade,
se alimentando de migalhas, de dúvidas, de medos e carências. O amor é nobre,
altruísta, busca corações sensatos, mentes ativas, almas belas.
Sabe
aquela frase do ‘Cuidar do jardim para que as borboletas venham’, Shakespeare
estava certo. Cuide do jardim da sua alma, adube a terra de boas ideias, bons
sentimentos, semeie exatamente o que quer colher. A vida é justa, não espere
plantar mangas e colher maças. Seja o que você procura no outro. Quer alguém
honesto, seja honesto! Quer alguém virtuoso, seja virtuoso! Você atraí o que
você é, o que pensa. O verdadeiro amor não pode ser construído em cima de
debilidades humanas. Não se pode sustentar paredes maciças com papelão, não se
pode sustentar o amor com ilusões e fantasias.
Amor
é sentimento que vem do espírito e habita os seres que se conhecem
verdadeiramente e que querem estar juntos, não para sugar tudo que o outro
possa dar, mas porque são generosos ao ponto de não esperar nada. De dar,
porque esse é o natural da vida. Desconheço relacionamentos saudáveis que não
tenham a generosidade como cerne. O verdadeiro amor provém da união de almas
que buscam a mesma estrela e que, por saberem que a personalidade é passageira,
se mantém lado a lado, lapidando-se todos os dias, para dar ao outro o melhor
de si.
E
se tem que ter poesia, eu deixo o meu poeta preferido: “Quando o amor acenar, siga-o
ainda que por caminhos ásperos e íngremes. Debulha-o até deixá-lo nu.
Transforma-o, livrando-o de sua palha. Tritura-o, até torná-lo branco. Amassa-o,
até deixá-lo macio; e, então, submete ao fogo para que se transforma em pão para
alimentar o corpo e o coração” Khalil Gibran.
Caroline Pilz Pinnow
Jornalista e estudante
de filosofia na Nova Acrópole Cuiabá
gostei.
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