quinta-feira, 12 de junho de 2014

Ode ao amor


Um dos primeiros poemas que eu lembro ter contato foi o Soneto de Fidelidade de Vinícius de Moraes. Gostei tanto que decorei as estrofes, e falava com ênfase a frase: “Que seja infinito enquanto dure”. Naquela época, tais palavras eram o ápice que eu sabia sobre o amor. Meu primeiro relacionamento foi literalmente uma cópia do poema e é claro que, se era para ser infinito enquanto durasse, uma hora ele iria acabar. E acabou, deixando meu coração partido por muito tempo e aquela sensação de inconformismo, afinal, será mesmo que o amor verdadeiro morre. Acaba assim, de repente, com uma divergência de opiniões, com um distanciamento físico, ou quando as afinidades não são mais as mesmas?

Então, você conhece o cara da sua vida naquele encontro de amigos do sábado à noite, vocês conversam sobre assuntos superinteressantes: o quanto são fãs de Jorge Benjor, que não vivem sem macarronada, adoram patins e, é claro, que o signo de vocês é a combinação perfeita dos astros. Pronto, é amor! Só pode ser o amor, que outra razão para que estivéssemos no mesmo bar naquele dia. Você cancelou seu compromisso para ir lá, ele teve a viagem adiada. Foi um sinal, um sinal dos deuses. Em um mês você chama-o de amor e ele corresponde com flores. Poderia ser mais perfeito que isso?

Então vocês convivem mais um pouco e você descobre que ele tem uma péssima mania de espalitar os dentes, fala errado e talvez não seja tão romântico assim. Ele descobre que você tem um gosto estranho para filmes e que é muito ciumenta. Mesmo assim, vocês se mantem juntos. Só que os pequenos defeitos vão crescendo... Um dia vocês descobrem que não eram tão parecidos assim. O príncipe virou sapo, e agora? É o fim... Coitado do amor, pegou a malinha e foi-se embora.

Uniões de corpos são assim, com o tempo desgasta mesmo. O corpo envelhece, o desejo diminui e aquele vazio só parece aumentar. Uniões por afinidade, ai que perigo. Eu desconheço alguém que tenha mantido os mesmos gostos por muito tempo. A gente muda, refina, oscila o humor, tem crises, é assim com todo mundo e se não houver algo maior que garanta a continuidade do relacionamento, esse fatores podem ser, sim, o motivo do fim.

Ah e tem a dita carência também. O tempo foi passando, você está envelhecendo e acha que não dá mais para ficar só. E aí, qualquer um serve. Opa. Como assim? E aquela lista de pré-requisitos foi parar aonde? Pois é, a tal da carência é a máscara mais comum do amor. Mas pense bem, será justo você ficar com alguém, ou aquele ‘enrolar’ o outro por uma debilidade sua? Aquele que não consegue viver sozinho tem a tendência a sufocar o parceiro. Muitas vezes deixa a própria individualidade de lado para agradar o outro. Passam os anos e essa pessoa vai morrendo por dentro. E se forem dois carentes então, um querendo curar o vazio do outro. Alerta!!! Vocês correm o risco de afundar juntos.

Relacionamento precisa ter um algo mais, um ‘q’ de admiração, do tipo ‘vamos crescer juntos’. Vazio se preenche com vida. Depende de autoconhecimento! Aquele que não conhece as próprias debilidades, que busca no outro uma espécie de tampão para a carência ou medo de ficar sozinho, esse desconhece o sentido do amor. Eros, o Deus do amor, certamente não poderia viver em meio às sujeiras da nossa personalidade, se alimentando de migalhas, de dúvidas, de medos e carências. O amor é nobre, altruísta, busca corações sensatos, mentes ativas, almas belas.

Sabe aquela frase do ‘Cuidar do jardim para que as borboletas venham’, Shakespeare estava certo. Cuide do jardim da sua alma, adube a terra de boas ideias, bons sentimentos, semeie exatamente o que quer colher. A vida é justa, não espere plantar mangas e colher maças. Seja o que você procura no outro. Quer alguém honesto, seja honesto! Quer alguém virtuoso, seja virtuoso! Você atraí o que você é, o que pensa. O verdadeiro amor não pode ser construído em cima de debilidades humanas. Não se pode sustentar paredes maciças com papelão, não se pode sustentar o amor com ilusões e fantasias.

Amor é sentimento que vem do espírito e habita os seres que se conhecem verdadeiramente e que querem estar juntos, não para sugar tudo que o outro possa dar, mas porque são generosos ao ponto de não esperar nada. De dar, porque esse é o natural da vida. Desconheço relacionamentos saudáveis que não tenham a generosidade como cerne. O verdadeiro amor provém da união de almas que buscam a mesma estrela e que, por saberem que a personalidade é passageira, se mantém lado a lado, lapidando-se todos os dias, para dar ao outro o melhor de si.

E se tem que ter poesia, eu deixo o meu poeta preferido: “Quando o amor acenar, siga-o ainda que por caminhos ásperos e íngremes. Debulha-o até deixá-lo nu. Transforma-o, livrando-o de sua palha. Tritura-o, até torná-lo branco. Amassa-o, até deixá-lo macio; e, então, submete ao fogo para que se transforma em pão para alimentar o corpo e o coração” Khalil Gibran.

Caroline Pilz Pinnow
Jornalista e estudante de filosofia na Nova Acrópole Cuiabá

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