sexta-feira, 30 de agosto de 2013
VIDA: breve ou longa?
~ Lúcio Aneu Sêneca ~
A maior parte dos homens queixa-se da Natureza, culpando-a de que nos tenha criado para viver tão pouco tempo; e que os anos que nos deu corram tão velozmente, que devem ser muito poucos aqueles de quem ela não toma a vida justamente no meio do seu maior esplendor. E não é somente a massa ignorante dos homens que se lamenta deste errôneo julgamento; pois, ao afetar também os excelentes varões cultos, seus efeitos geram os mesmos pesares.
Por isso também se originou a seguinte expressão (indigna de um sábio) de Aristóteles: que sendo a idade de alguns animais tão longa, que em alguns chega a cinco séculos e em outros a dez, ao contrário, tão curta e limitada é a do homem, criado para coisas tão superiores. O tempo que temos não é curto; mas perdemos muito da vida em ócio e em deleites, é não a ocupamos em louváveis exercícios; e quando chega o último momento dela, conhecemos que se passou muito rápido, em que tenhamos percebido que caminhávamos.
O certo é que a vida que temos não é breve, fazemos com que assim seja; e que não somos pobres, e sim pródigos do tempo. Assim como grandes e reais riquezas que, ao chegarem a mãos de maus administradores, dissipam-se em um instante, o contrário ocorre com as curtas e limitadas, caindo nas mãos de bons administradores, pois crescem com o uso. Assim nosso tempo tem muita extensão se for bem utilizado.
(páginas 9 e 10 - coleção filosofia à maneira clássica, editora Kiron)
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